Posted by : •°o.O Misa O.o°• terça-feira, outubro 22, 2013

Tudo bem? A história é da minha autoria e da Flávia. Este capítulo no entanto pertence-lhe. Não tenho muito a dizer... espero que gostem e boa leitura ^^
No começo, o sangue.
Um cheiro longínquo, mas de sangue, sangue e carne, sangue e carne humanos. Alex correu para leste, se aquele cheiro se afastasse mais poderia chegar até o rio que cortava a floresta, se lavar, afastando seu rastro e se perder mato à dentro, bem, pelo menos é o que ele faria se fosse uma garota cuja igreja pretende queimar viva.
– Garoto! Para leste! – disse para Desespero, seu lobo cinza amarronzado, que tinha esse nome por ter ficado desesperado na primeira transformação. Tinha sido um sufoco acalmá-lo, esperava que com a garota fosse mais fácil.
Conforme foi chegando próximo ao rio mais cheiros se misturavam, cheiros da mata, da floresta, dos animais, dos frutos e das folhas, mas principalmente o cheiro da menina, um cheiro de vida misturado ao sangue e a carne. Quando parou em frente ao rio, o cheiro estava perto, forte, torceu o nariz e seguiu em frente, diminuindo a velocidade. Se perguntou se ela teria atravessado, mas nesses meses de verão, o rio ficava cheio e violento, uma garota sozinha e assustada não conseguiria atravessar a nado aquela correnteza, conseguiria? Além disso o cheiro estava forte demais, a correnteza teria encoberto boa parte dele se ela tivesse atravessado.
Poucos metros depois avistou, primeiro, foi só a sombra batendo nas pedras, mas logo, quando chegou mais perto viu os negros cabelos e as curvas da jovem, era uma garota, devia ser ainda mais jovem que ele quando entrou em Fúria, tinha cabelos lisos até os ombros e ondulados até metade das costas, pele branca e ferida, costumava a usar um vestido, mas agora tudo que sorara dele foi a parte que cobria os seios, de resto ela estava nua, tinha feito uma espécie de saia com capim seco, algo improvisado e que cairia depressa.
– Vá Desespero, xô – Alex espantou o lobo, ficar com ele por perto poderia assustar a menina.
Apesar dos esforços para ser sorrateiro, Alex nunca tinha sido bom em discrição, e logo ela ouviu sua voz e seus passos, e se levantou recuando, meio curvada, como um animal assustado, e o garoto percebeu que poderia até ser bonita se não fossem os machucados e a sujeira que formava crostas na pele e deixava o cabelo estranho e seboso. Ela abriu a boca, mas não ousou falar, conseguia farejar que ele era igual a ela, a boca aberta mostrou uma fileira de dentes vermelhos. Ela rosnou.
– Calma – o garoto levantou as mãos em sinal de paz. – Não vou te machucar, não sou da igreja.
– Não sou um bruxa! – ela gritou, como se as palavras pudessem formar um escudo entre Alex e ela.
–Você não é uma bruxa, - ele concordou - podemos conversar?
– Não se mexa! – ela disse quando ele tentou se aproximar.
– Não vou – ele parou, obediente – podemos conversar a essa distância se preferir – nessas horas a saia de grama já tinha caído, Alex puxou um manto da bolsa, quase sempre eles estavam nus, então era normal levar uma roupa para eles, jogou a manta em direção a garota que pegou e se enrolou depressa – Apenas fique aí, e eu aqui tudo bem?
Ela acenou, temerosa e com um aceno de Alex ela se sentou, estava a uns sete metros do garoto, se enrolou ainda mais no manto apertando-o contra si, como se o manto fosse tudo que ela mais amava na vida. Talvez fosse.
– Está assustada. – Alex disse, e não era uma pergunta, mas mesmo assim ela acenou, devagar – tem medo, não sabe o que está acontecendo. – Odiava Edmund por tê-lo mandado, sempre tinha sido péssimo com palavras e se descobriu com a voz falhada – pois bem, eu estou aqui para te ajudar, vou tirar suas dúvidas, espantar seus medos, eu e você, nós, nós somos iguais, somos a mesma coisa.
Ela ergueu as sobrancelhas deixando claro, não confio em você. Alex não confiaria também, não era igual ao Príncipe, que esbanjava confiança e carisma por onde andava, carrancudo, estressado e fechado para si mesmo, Alex era o tipo de pessoa que ninguém confiava.
– Não entende – ela disse se afastando levemente, como se o garoto não pudesse perceber – você não sabe como...
– ... é ficar nervoso, irritado, e de repente ser transformado numa fera gigantesca e monstruosa incapaz de misericórdia? De acordar perdido e coberto de sangue, sem saber direito o que aconteceu e ser caçado por isso? Sentir mais medo de si mesmo do que dos outros, estar perdido num pesadelo em que você é uma criatura cruel? Sim, eu sei como é. – as palavras jorraram de sua boca e o garoto se surpreendeu com seu efeito.
A garota se calou, abriu os olhos como uma criança ansiosa para ouvir uma história, e era isso que ela era, uma criança, todos são quando se transformam pela primeira vez, tenham eles vinte, trinta ou quarenta anos, tornam-se crianças quando veem que não se conheciam. Sentem medo, raiva, choram como crianças, apesar da maioria não admitir a última parte, todos choram, todos acabam chorando quando se descobrem animais sanguinários que são.
– O que eu sou? – ela perguntou.
– Um lobisomem – Alex não era de enrolar.
Para surpresa de Alex ela não demonstrou surpresa ou medo, já tinha passado dessa fase, percebeu ele, já estava há dias vagando sozinha, já tinha se acostumado mais do que muitos com a ideia. Era forte, apesar de não aparecer, poucas pessoas demonstravam tal força de vontade depois de passar por tudo que ela passou.
– Como?
– Sua bisavó, por parte de mãe. Se casou com um lobisomem sem saber, os dois sofreram um acidente, e nele eles trocaram sangue, o sangue de lobisomem é veneno, mesmo uma gota impregna no sangue e é passado de geração em geração, o marido de sua bisavó morreu e ela teve sua avó de um humano, mas o sangue da lua ainda estava nela, e foi se desenvolvendo, até desflorar em você.
Ninguém virava lobisomem, nascia assim, o sangue da lua (como era conhecido) se impregnava na pessoa, e passava para seus filhos, netos, bisnetos, tataranetos e em cada um deles o sangue ficava maior e mais forte, até que um bebê nascia com o sangue totalmente da lua. E conforme crescia, mais cedo, ou mais tarde, entrava em Fúria, e essa o transformava no monstro pelo qual eram conhecidos.
– Tenho irmãos.
– Se eles são lobisomens também? – ela falava de modo tão fraco e tão inocente, que Alex quase sentiu vontade de confortá-la, mas não era bom para isso, e ficou triste em ver que sua voz soava mais fria do que pretendia - Depende, são parecidos com seu pai, ou com sua mãe?
– Meu pai... todos eles.
– Então não – Alex suspirou aliviado, casos a menos.
Por fim, eles tiveram uma longa conversa até Emily, que o garoto descobriu ser o nome dela, confiar nele para leva-la até a alcateia. No meio do caminho duvidas surgiram e ele esclareceu todas. Mas no fim eles se entenderam, tinham ambos o sangue da lua, eram ambos a mesma fera, eram ambos jovens...
... Eram ambos monstros.
O que acharam? O próximo capítulo será sobre a outra face da moeda. Entenderam? Quem ainda não leu a sinopse vai a tempo. Até à próxima!

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